EXPORTAR É VIVER

    

Há alguns anos atrás fui convocado pela empresa em que então trabalhava para ir aos EUA em viagem para negociar alguns contratos com fornecedores de softwares. O lugar não poderia ser outro se não San Jose, um pequeno município ao lado de San Francisco – CA, em pleno Silicon Valley ou Vale do Silício. Um lugar com um dos maiores produtos internos do mundo.


Dificuldades com a língua em função das pronúncias diversas, me meti em algumas enrascadas, mas nenhuma como de um amigo, que prefiro não citar o nome, que anotou o endereço de uma loja de esquina em New York – “One Way” com “Don’t Walk”. Era mais uma dessas viagens com muitas histórias.


Amenidades à parte, fui conhecer a empresa de software de línguas: minha expectativa era de encontrar uma estrutura de pelo menos um andar de um prédio e uns 25 funcionários. Para nossa surpresa, eram 4 salas médias no térreo de um centro comercial de vários prédios de 2 andares superiores.


Por que estou falando disso? É simples, esta pequena empresa tem negócios de milhões de dólares na EUROPA, ÁSIA, AMÉRICA LATINA, ORIENTE MÉDIO entre outros. Em pouco mais de 2 anos que tive contato com eles, vieram 3 vezes ao Brasil nos visitar e participar de feiras.


Este é um exemplo, poderia citar outras dezenas de empresas americanas que possuem estruturas ínfimas e exportam para o mundo inteiro.


Nosso contato lá era Nick Randall, de quem tínhamos boa imagem. Nick era responsável comercial pelos mercados Ásia e América Latina e também produtor de uvas na Califórnia. Em uma de nossas conversas ele demonstrou interesse em largar o negócio de software e produzir vinho em seus 200 acres de terra e exportar.


Algum tempo depois, relacionei esta viagem à outra no início da década de 90 quando fomos expor nossa empresa numa feira em Washington DC. Era a 1ª feira mundial de franchising e lá encontramos diversas empresas pequenas vendendo seus produtos e serviços para o mundo.


Esta mentalidade de ser uma empresa mundial, exportadora, por incrível que possa parecer, no Brasil, era coisa para gente grande. Apenas agora estamos acordando para isso, com um belo atraso, mas estamos. Lembro de Delfin Neto, então Ministro da Fazenda, falando que a saída do Brasil era exportar, mas o que se fazia era apoiar grandes conglomerados de empresas e nenhuma política de incentivo ao mercado externo para pequenas e médias empresas.


É engraçado, todos sabemos que temos de distribuir melhor a renda, só que a maneira que incentivamos no Brasil é o contrário. A mentalidade é que essa distribuição aqui deve ser feita tirando-se dos ricos – quem é que não ouviu alguém dizer “aqueles ricaços são um bando de ladrões” (e para isso basta ter um pouco, não muito) – é o paradigma instalado em nossa cultura. Ter sucesso no Brasil é coisa para ladrão. Está certo que existem muitos por aí, mas não é regra geral.


Hoje, se descobriu que é preciso empreender – curso de empreendedor nas escolas, faculdades, ONG’s entre outras. Comunidades nordestinas que antes não tinham qualquer expectativa de renda hoje, em cooperativas, exportam frutas entre outros produtos sem uso de insumos químicos nas suas culturas. Fazendas de camarões e ostras, rapadura, cachaça, artesanatos de cipó e madeira, mel, shitake, confecções, educação, informática educacional, implantes dentários, implantes ortopédicos, preservativos e muitos outros produtos não convencionais para o que estamos acostumados ouvir. E o tamanho das empresas – micro, pequenas, médias e cooperativas.


Agregar valor através de tecnologia e serviços aos nossos produtos!


Na área de produtos médicos e similares, o Brasil tem um potencial que poucos países possuem. Com alta tecnologia agregada aos produtos, conhecimento e criatividade, muitas empresas brasileiras tem conquistado mercados porque simplesmente resolveram deixar de recordar as vacas gordas do passado, a sobrevivência interna, e passaram a exportar para viver.


Deixe a música “recordar é viver” rolar neste carnaval, mas no seu negócio, exportar é viver.



"Projeto Exportar é Viver"

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